No ano em que se cumprem os 20 anos da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO, o Festival Imaterial, organizado pela Câmara Municipal de Évora e a Fundação Inatel, apresenta-se com imagem renovada e um programa que pretende celebrar o Imaterial como ponto de encontro do passado, presente e futuro. A programação musical inclui artistas de várias regiões do mundo como Burkina Faso, Burundi, Curdistão, Geórgia, Grécia, Índia, Irão, Letónia, Mali, Marrocos, México e Portugal.
De 19 a 27 de maio, o Património Imaterial vai ser novamente pensado e homenageado em Évora, nas suas várias formas, na terceira edição do Festival Imaterial. Uma das áreas culturais de maior expressão na programação do Festival é a música e a programação musical desta edição inclui artistas de várias regiões do mundo.
A abertura do festival fica a cargo de Huelgas Ensemble, projeto originário da Bélgica, com um concerto único que decorre na Sé Catedral de Évora. À abertura do Imaterial, o grupo Huelgas Ensemble traz um espetáculo dedicado a Vicente Lusitano, compositor negro e por muitos considerado o maior compositor português do século XVI, pioneiro na música clássica europeia, e que terá, acredita-se, estudado em Évora.
De Marrocos chegam-nos os Master Musicians of Jajouka, cuja sonoridade é como encostar os ouvidos a uma música que sopra ao longo de séculos até chegar, finalmente, até nós. Brian Jones, dos Rolling Stones foi quem primeiro mostrou ao mundo a hipnótica e ancestral tradição musical preservada pela família Attar.
De Portugal Ana Lua Caiano, que representa o encontro entre a tradição e a contemporaneidade. É a representação de um Portugal remoto mas também do cosmopolitismo, de um mundo aproximado pela tecnologia numa só voz.
Iberi Choir chegam da Geórgia apresentando-se como um grupo que se dedica ao específico canto polifónico georgiano, reconhecido pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade em 2001.
Kaito Winse traz ao Imaterial a sonoridade do Burkina Faso. Winse parece necessitar da variedade de sons que busca ao seu redor para criar uma paleta musical à altura da sua voz extraordinária, veículo de uma inspiradora riqueza poética e de uma filigrana na qual é possível escutar uma qualidade quase operática.
Do Mali, chega o Trio da Kali. A música que compõem a partir de recursos reduzidos à essência é uma bela, subtil e pungente recriação de um legado narrativo pré-colonial.
Roy Chowdhury traz-nos os sons da Índia, acompanhado por Nihar Mehta (tablas). Sougata viveu a infância dominada pela música clássica indiana, mas aos dez anos entregou-se ao Sarod, cordofone central nesta tradição e, em poucos anos, o seu talento tornou-o num dos mais admirados músicos da sua geração.
Do Irão, chega-nos Kayhan Kalhor & Kiya Tabassian & Behnam Samani. Kalhor é um intérprete espantoso de Kamancheh (cordofone aparentado ao violino) e um dos mais reconhecidos representantes globais da cultura iraniana.
Silvana Estrada vem do México. Vencedora do Grammy Revelação em 2022, trata-se de uma das mais apaixonantes criadoras de canções do momento. O desgosto amoroso esteve na base do surpreendente álbum de estreia Marchita.
La Kaita, cantora cigana nascida em Badajoz, representa a região da Estremadura espanhola. É uma das mais respeitadas vozes do flamenco tradicional, trazendo para a sua música jaleos e tangos, géneros típicos da Estremadura.
A sonoridade do Burundi chega-nos através dos The Drummers of Burundi. Este coletivo reunido em torno de ritmos tradicionais da região leva para palco a música que acompanha vários rituais sociais ligados à sua vida em comunidade.
Os Danûk são um grupo de jovens músicos unidos pelo amor comum que nutrem pela música tradicional do Curdistão. Fazem através da música, a busca pelas suas origens e pela pertença a uma História maior do que a sua. Descobertos a tocar nas ruas de Istambul, acabaram por ser chamados a compor e interpretar bandas sonoras para cinema e para rádio.
Kadinelia vêm da Grécia e apresentam no Imaterial a sua música de viagem, mas em que cada paragem parece concentrar em si vários lugares em simultâneo. Uma sonoridade num universo de guitarras acústicas, harmonias vocais e em que a tradição musical grega é atravessada por elementos de blues ou rock.
Também a Letónia, país que partilha com Évora uma das suas cidades como Capital Europeia da Cultura em 2027, está presente nesta edição do Festival Imaterial. As Tautumeitas trazem para o seu universo instrumentos e influências para os temas do reportório tradicional letão.
O Festival Imaterial encerra no dia 27 de maio ao som dos Ganhões de Castro Verde & Paulo Ribeiro. Para o seu concerto no Imaterial, os homens que colhem o nome naqueles que trabalhavam no campo, ao serviço das sementeiras, das colheitas ou da apanha da azeitona, juntam-se ao cantor Paulo Ribeiro para o espetáculo “O cante não cai do céu”.
A juntar ao programa musical será anunciado, em breve, um programa de ofertas culturais diversificadas passando pelo cinema, conversas e passeios pelo património. O Festival Imaterial tem entrada livre e, na passada edição, contou com mais de três mil espectadores. Este ano, é objectivo crescer em visitantes e participantes nas diversas secções do festival, reafirmando o Imaterial como um ponto de encontro.