Oficina da Flor: Festas do Povo têm nos jovens uma garantia de continuidade

A última edição das Festas do Povo realizou-se em agosto de 2015

15 de dezembro de 2021: uma data que ficará marcada na história de Campo Maior e na memória de cada um dos campomaiorenses, com a elevação das Festas do Povo a Património Cultural Imaterial da Humanidade.

A decisão foi tomada, no decorrer da 16.ª reunião do Comité do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a UNESCO, em Paris.

Realizadas pela última vez em agosto de 2015, as Festas do Povo de Campo Maior são conhecidas por apresentarem dezenas de ruas, sobretudo no centro histórico da vila, engalanadas com milhares de flores de papel, feitas pela população de forma voluntária. E é isso, acima de tudo, que faz delas tão especiais.

Este, que foi um importante reconhecimento e que deixa a fasquia mais elevada, implica agora que a Câmara de Campo Maior, juntamente com a Associação das Festas do Povo, trace todo um trajeto, no qual se procure “incentivar as novas gerações”, para que, no final de contas, “não se deixe morrer esta tradição secular”. Quem o diz é a vereadora da Cultura, São Silveirinha.

A verdade é que, ainda antes do eclodir da pandemia, Campo Maior preparava-se para realizar mais uma edição das Festas do Povo. 29 de agosto a 6 de setembro de 2020: seria uma semana e um dia de festa e alegria, para os campomaiorenses, mas também para aqueles que, por esta ocasião, enchem as ruas da vila. A 25 de março, desse mesmo ano, Câmara e Associação anunciavam o adiamento das festas, para data incerta, ou não tivesse sido, por essa altura, declarado Estado de Emergência no país.

A continuidade do evento, não tem dúvidas a presidente da Associação das Festas, Vanda Portela, está assegurada, por mais que seja necessária “uma partilha de conhecimento” entre os mais velhos e os mais novos. E isso já está a ser feito, através daquilo a que, no Agrupamento de Escolas, chamaram de Oficina da Flor.

Vanda Portela é a principal responsável por ensinar os jovens a fazer flores de papel

Com o reconhecimento a uma tradição que tem passado de geração em geração, garante o diretor do Agrupamento de Escolas de Campo Maior, Jaime Carmona, é hora “de se começar a preparar o futuro”. Com este trabalho agora a ser desenvolvido com algumas turmas, quer-se mostrar aos alunos, acima de tudo, que as flores, as festas e o espírito de entreajuda que as caracteriza são “algo que lhes pertence”.

Para já, a Oficina da Flor envolve duas turmas PIEF (Programa Integrado de Educação e Formação), uma do PCA (Percursos Curriculares Alternativos), e outras duas de Ensino Especial. Mas este projeto já era para ter começado ainda antes do reconhecimento e da elevação das Festas do Povo a Património da Humanidade, de acordo com a técnica de intervenção local, Letícia Garcia. Com os atrasos provocados pela pandemia, mas entretanto estabelecida a parceria com a Associação das Festas do Povo, o trabalho, com estes alunos, na Oficina da Flor, tem vindo a ser desenvolvido desde o primeiro período letivo.

O projeto quer envolver, para além dos alunos, os seus pais e avós, por mais que, recorda Jaime Carmona, em tempos de pandemia, a escola tem estado muito fechada à comunidade.

José, Daran, Rodrigo, Tiago e David são apenas alguns dos exemplos, no seio de um conjunto de alunos que “não tem grande interesse” pelas atividades escolares, pelo que se procura transmitir, a estes jovens, nesta Oficina da Flor, e noutras disciplinas, alguns conhecimentos e ferramentas, que possam vir a ser úteis, através de atividades mais práticas.

Mas em Campo Maior já só se pensa na próxima edição das festas. São Silveirinha garante mesmo que a população “está sedenta” da realização daquele que é o maior ex-líbris festivo do concelho, por mais que ainda tenha de esperar até 2023. Com esta elevação, revela a vereadora, é agora preciso, entre outros, que se mantenha vivo o espírito de voluntariado que caracteriza as festas. Depois da conquista da classificação enquanto Património da Humanidade, há outro passo importante a dar: o da certificação da flor. Esta certificação servirá, sobretudo, para evitar cópias destas flores de papel, que são “únicas e genuínas”. Já para Vanda Portela, a elevação das festas a património da UNESCO acaba por ser como a abertura de “uma janela para o mundo”.

A Oficina da Flor envolve, para já, turmas PIEF, de PCA e de Ensino Especial

Prestes a ser inaugurada está a Casa das Flores que, na prática, será um Centro Interpretativo das Festas do Povo, um espaço que, segundo São Silveirinha, será “muito digno”. Com ele, quer-se, acima de tudo, potenciar ainda mais o turismo de Campo Maior, sendo este um lugar onde não faltarão atividades alusivas às festas. Com a Casa da Flor, Campo Maior fica com um equipamento capaz de mostrar a quem visita a vila, sempre que não há festas, aquilo que elas são.

Mas enquanto não houver festas, nem Centro Interpretativo inaugurado, os alunos, que frequantam a Oficina da Flor vão continuar a trabalhar… No final do ano letivo, a expectativa é que estes jovens façam, mesmo na escola, uma pequena rua, em jeito de amostra daquilo que são as Festas do Povo.

Os primeiros trabalhos, para realizar o certame, em 2023, já começaram. Contudo, é necessário voltar a contactar a população, lembra Vanda Portela, até porque as festas só acontecem quando o povo assim entende.

Em 2023, os campomaiorenses, ao que tudo indica, voltam a sacrificar as suas horas de descanso, agora com esta ajuda extra dos mais novos, para dar forma às flores e demais arranjos sem os quais Campo Maior não se poderia transformar, da noite para o dia, no mais belo dos jardins.

A reportagem, na íntegra, para ouvir no podcast abaixo.