O setor da tauromaquia, em Portugal, continua a sofrer as duras consequências da pandemia, sendo que, com o regresso das corridas às praças, já autorizado pelo Governo, há espetáculos a ser cancelados.
Assim aconteceu com as corridas que estavam marcadas para amanhã, dia 10, e sábado, dia 12, em Santarém, no decorrer da edição de 2021 da Feira Nacional da Agricultura.
A tauromaquia, garante o cabo dos Forcados Amadores e Académicos de Elvas, Luís Machado (na imagem), tem sido “fortemente atacada”, sendo estas corridas um exemplo disso mesmo, depois de uma delegada de Saúde ter proibido os eventos. Naquela que é a maior praça de touros do país, que leva cerca de dez mil pessoas, a corrida de amanhã “tinha uma lotação de 50 por cento”. “Estavam vendidos cinco mil bilhetes, mas à última da hora, um parecer de uma delegada de Saúde proibiu e classificou a praça de touros como não sendo um recinto de espetáculos”, revela. “A corrida teve de ser cancelada, por já não se ter condições de se testar toda a gente”, acrescenta.
Luís Machado diz ainda que, apesar de algumas corridas em cima da mesa, não se sabe quando os forcados de Elvas voltarão às praças, uma vez que tudo muda, de um dia para o outro. “Um dia, a ministra da Cultura diz que a partir de 14 de março, a cultura vai voltar em força e no dia 8 de junho vemos os ataques a ser constantes. Do ponto de vista empresarial, é andar-se às escuras”, garante. Agora, é necessário perceber se “as normas se mantêm” e se os empresários têm vontade de organizar as corridas. “Estamos todos muito assustados e preocupados com o que possa acontecer”, até porque, assegura, “o futuro é duvidoso”.
O cabo lembra ainda a final da Liga dos Campeões, assegurando que, depois de tudo o que se passou no Porto, é “frustrante” perceber aquilo que a tauromaquia tem passado. “Aqueles adeptos e aquela final não trouxeram assim tanta vantagem económica para o país. No dia a seguir, o Reino Unido colocou Portugal na lista amarela e vimos, passados dois dias, a quantidade de ingleses que foram embora. Isto, mais uma vez, demonstra o andar às cegas governamental que vivemos hoje em dia. Essa final está a ter, neste momento, consequências catastróficas”, comenta Luís Machado.
No ano passado, em Santarém, depois das corridas, no decorrer da Feira da Agricultura, recorda ainda Luís Machado, não se registaram prejuízos, nem surgiram daí casos positivos de Covid-19. “Não existiram bares partidos, não existiram prejuízos públicos e privados e, mais uma vez, o setor demonstra que é civilizado”, lembra.
“É um direito, está na Constituição da República Portuguesa. Os espetáculos têm de ser preservados. Isto é um ataque constante a este setor, que há dois anos para cá está a ser fortemente prejudicado. Os toureiros têm de ganhar dinheiro e alimentar cavalos. Os ganadeiros têm de alimentar os touros”, diz ainda o cabo dos forcados de Elvas.
Amanhã, em Santarém, na sequência do cancelamento das corridas previstas, será levada a cabo, na Praça Celestino Graça, de Santarém, uma manifestação, que Luís Machado garante que será civilizada, contra a discriminação a este setor. “Temos de encher as ruas e protestar pela liberdade que nos está a ser posta em causa”, remata.
De recordar que também, recentemente, um grupo quase 300 personalidades, entre políticos, jornalistas, escritores e atores, assinou uma carta exigindo o fim da transmissão de touradas na televisão pública. Os signatários exigem uma televisão “pública livre da transmissão de espetáculos que se baseiam na violência contra animais”.