O Núcleo Regional de Portalegre da Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza), apresenta alguns factos, que na sua opinião, marcaram positiva e negativamente o ano de 2021.
Ao nível do Alto Alentejo, e do distrito de Portalegre em particular, a Quercus destaca, como o pior de 2021:
– O corte ilegal, em Monforte, de 1939 azinheiras, em bom estado vegetativo e de podas de troncos de grandes dimensões em 1058 exemplares, efetuado num povoamento de azinheiras protegido, apresenta-se como mais um exemplo de ameaça aos montados de azinho.
– Barragem do Pisão, considerando que o primeiro tiro da “bazuca” do PRR “foi para fora do alvo, devido aos elevados impactos ambientais sobre o montado e destruição da agricultura tradicional sustentável”. O PRR, segundo a Quercus, “no contexto da crise económica e social devido à pandemia, deveria contribuir para o crescimento sustentável integrado no Pacto Ecológico Europeu (Green Deal) e não para financiar projetos destrutivos e inviáveis sem um grande investimento público e comunitário. Este empreendimento tem grandes impactes ambientais negativos não apenas na destruição na área florestal de montado da região, mas os blocos de rega afastados, vão promover o alastramento descontrolado das culturas superintensivas de regadio tem vindo a descaracterizar o Alentejo, situação que deve ser controlada”.
– Olivais superintensivos no Alto Alentejo, em que à semelhança do Baixo Alentejo, o Alto Alentejo, sobretudo, em concelhos como Elvas, Avis, Fronteira, Campo Maior ou Évora, continua a ser também “alvo da instalação de novas monoculturas intensivas e superintensivas de olival, sem um fim à vista, e a situação pode mesmo agravar-se, caso avance a construção da Barragem do Pisão, no Crato. Quando a maioria das previsões aponta para num futuro breve existirem cada vez mais carências ao nível dos recursos hídricos disponíveis nas zonas a sul do Tejo, será muito questionável a aposta que está a ser feita nestas culturas de regadio, complementadas com utilização regular de fertilizantes químicos de síntese e produtos agrotóxicos. Mais grave se torna a situação quando a expansão destas culturas é feita à custa de floresta autóctone, base da biodiversidade local, ou com o sacrifício de olival adulto e tradicional, bastante mais bem adaptado às realidades locais”.
– continuação de aplicação de herbicidas cancerígenos. A Quercus sobre este tema refere que “apesar da perigosidade dos herbicidas glifosatos, estes continuam a ser utilizados pelas autarquias locais, serviços florestais e na manutenção de estradas nacionais e municipais”. Estes produtos continuam mesmo “a ser aplicados sem se cumprirem normas elementares de segurança para os trabalhadores e sem prévio aviso das populações, nem sinalização da aplicação. Regista-se também a sua aplicação junto a linhas de água, pondo em perigo a vida selvagem e a saúde púbica. Contribuem para a diminuição da flora autóctone e para a expansão de plantas invasoras. Infelizmente, nenhum município nem nenhuma freguesia do distrito de Portalegre aderiu à proposta da Quercus, e de outras associações, para se declararem livres de herbicidas”.
– Operações de “limpeza” em árvores, onde continuam a ser registados casos de más práticas nas limpezas e operações de poda realizadas nas árvores de alguns parques e jardins do distrito de Portalegre. Tais práticas, muitas vezes realizadas de forma demasiado severa e injustificada, provocam frequentemente debilidade nas árvores intervencionadas, assim como danos ambientais e descaracterização dos espaços públicos onde se encontram.
Relativamente ao melhor de 2021, a associação ambientalista destaca:
– XXVII Jornadas Pedagógicas de Educação Ambiental, em que a Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA) promoveu as Jornadas Pedagógicas de Educação Ambiental decorreram em Castelo de Vide, numa organização da ASPEA, em parceria com a Câmara Municipal de Castelo de Vide e a Comissão de Cogestão do Parque Natural da Serra de São Mamede.
– Ciclo de webinars às terças, onde a Comissão de Cogestão do Parque Natural da Serra de São Mamede tem permitido atividades de divulgação dos valores naturais, como este ciclo de webinares. A Direção Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo promove “Ciclo de webinars às terças”. Este ciclo de sessões na Internet decorre às terças-feiras, e são promovidas pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P., pela Direção Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo e pela Divisão de Cogestão de Áreas Protegidas do Alentejo. Todas as semanas especialistas das diversas áreas dão a conhecer aspetos particulares do ambiente e respondem a perguntas do público. As sessões ficam disponíveis no canal do Youtube do ICNF.
– Alto Alentejo bem posicionado na Qualidade Ambiental, que segundo a “análise do Índice Sintético de Desenvolvimento Regional, referente a 2019, foi divulgada em junho deste ano, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Esta análise revelou que, ao nível do índice de qualidade ambiental, o Alto Alentejo se situa em quarto lugar nacional, atrás de Trás-os-Montes (1º lugar), Beira Baixa (2º lugar), e Região Autónoma da Madeira (3º lugar). O estudo incidiu sobre 25 regiões Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos (NUTS) III e mostra que, apesar de muito existir ainda a fazer, o Alto Alentejo é uma referência em termos ambientais, a nível nacional.
– Avis e Alandroal com bandeira verde, estes municípios foram distinguidos com a bandeira verde atribuída pela Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE). Essa atribuição “foi condicionada à avaliação do seu desempenho, através de indicadores de sustentabilidade, sendo um estímulo e uma responsabilidade para o fortalecimento de ações continuadas que visam a elevação da sua qualidade ambiental e educacional. É de salientar que dos Municípios portugueses vencedores da Bandeira Verde Eco XXI, Avis e Alandroal foram os únicos Municípios do Alto Alentejo galardoados”.
Quanto aos desejos para este novo ano, a Quercus ambiciona “uma política intermunicipal em colaboração com a VALNOR de incentivo positivo à separação dos resíduos, ao nível particular e empresarial, incluindo restauração; assim como os melhores transportes e mais ecológicos; e que o Plano Intermunicipal para as Alterações Climáticas no Alto Alentejo consiga contribuir para um melhor ambiente”.