
Ainda que o atletismo seja a modalidade “mais praticada em Portugal”, diz Carlos Pepê (na imagem), responsável pelo grupo Campo Maior Trail Runners, a polémica “licença para correr” da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), só por si, “não se repercute, diretamente, no volume de atletas federados”.
“Vendo o problema, na perspetiva da FPA, isto acarreta um problema que é de representatividade, ou seja, nós não temos representatividade junto dos organismos nacionais e internacionais de todos os atletas que praticam desporto, em Portugal, na área do atletismo”, acrescenta. Por outro lado, o responsável diz que o “amadorismo faz parte”, isto é, “a liberdade para correr e treinar”, algo que “não está em causa”, até porque “é essa a dinâmica que faz com que as pessoas se mantenham saudáveis”.
Assegurando que “ninguém entende bem” esta licença, Carlos Pepê defende que a medida “foi tirada um pouco de contexto” e “mal apresentada” pela FPA. “Essa falta de comunicação, por parte da FPA, gera agora uma polémica que ninguém entende. Tudo aquilo que percebemos é que esta licença vai ser carregada sobre as costas dos atletas, agora falta perceber qual a dimensão dessa licença, o que é que ela envolve, que tipo de retorno é que dá aos atletas, e não só na questão do seguro”, acrescenta.
A “grande rotura” entre os participantes nas provas e a federação, garante ainda Carlos Pepê, está na impossibilidade dos atletas poderem continuar a ser amadores: “há sempre o livre-arbítrio, que é o atleta não querer estar federado, querer apenas ser amador”. “Mais de 80% dos participantes, seja de um trail ou de uma maratona, fazem-no para se desafiarem a si próprios, e que, neste contexto, carregando o ónus de mais uma licença, podem dizer que não vão participar nas provas”, assegura. Com isto, “perde-se representatividade de atletas, vai-se criar anarquia no sistema, porque as pessoas vão correr livremente e deixar de participar em provas organizadas e vamos poder ter mais problemas de saúde pública, porque as pessoas vão estar a correr sem estar monitorizadas, nem acompanhadas em provas, e o desgoverno das pessoas em não quererem fazer parte de uma estrutura federada, porque já se criou um movimento nacional contra esta medida e agora vai ser muito difícil revertê-la”.
Carlos Pepê diz ainda que não é com “uma medida dispendiosa” que se conseguem atrair os atletas, sendo que, entre os elementos do Campo Maior Trail Runners, não há quem queira pagar esta licença para ter de participar nas provas.
De recordar que um atleta não federado, isto é, um atleta amador, com mais de 18 anos, que queira correr numa prova de atletismo, a partir da próxima temporada desportiva, vai precisar de uma licença. Esta licença poderá ser diária, com um custo de três euros, ou anual, com um preço 31 euros. Com isto, a FPA procura “promover uma prática mais segura, regulamentada e sustentada da modalidade”.
A verdade é que, nos últimos anos, as corridas têm-se multiplicado no país, sendo que a participação na sua maioria exige o pagamento de uma inscrição por parte dos atletas. Desta forma, a licença vai resultar num aumento dos custos para os participantes.
Entretanto, foi lançada uma petição pública, que conta já com mais de 12 mil assinaturas, que pede a revogação desta licença obrigatória nas competições de atletismo. A licença é encarada, pelos subscritos, como uma “barreira económica injustificada à prática desportiva, contrariando princípios constitucionais e legais que regem o acesso ao desporto em Portugal”.