“Num ano que ficou marcado pela continuação da guerra na Ucrânia e pela guerra na Palestina”, a nível ambiental “houve também problemas que se agravaram”, diz Núcleo Regional de Portalegre da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, que, em comunicado, elege aquilo que foi o melhor e o pior de 2023, nesta matéria, no Alto Alentejo.
O PIOR DE 2023
Seca
As alterações climáticas fizeram-se sentir de diversas maneiras, nomeadamente com fenómenos climáticos extremos como é o caso da seca que afeta várias partes do mundo, como o sul da Península Ibérica. A falta de precipitação reflete-se na falta de água no solo e nos cursos de água. Para além dos problemas para a agricultura e pecuária os ecossistemas da região de Portalegre sofrem com a seca.
Folhas de carvalhos-negrais secam prematuramente
Pelo terceiro ano consecutivo as folhas de Quercus pirenaica secaram em pleno verão, ainda no mês de agosto, em vários concelhos do distrito, cujas causas ainda são desconhecidas, embora saibamos que a seca e as ondas de calor decerto não ajudem. Este fenómeno, em anos sucessivos, fragilizou as árvores sendo necessário que se proteja melhor a espécie e os seus ecossistemas dos quais faz parte.
Peixes mortos na ribeira de Seda
Verificou-se a morte de peixes na ribeira de Seda, no concelho do Crato. A poluição da água pode ser uma causa, mas até ao momento não sabemos que medidas foram tomadas para que este fenómeno não se repita.
Peixes mortos no rio Caia
A morte de peixes junto a Arronches, à semelhança do que aconteceu na ribeira de Seda, marcou o início de Setembro, após as primeiras chuvas do final do verão. O SEPNA da GNR descartou a hipótese de poluição por águas residuais. No entanto não se apurou a causa da mortandade dos peixes, para que se possam eventualmente tomar medidas para evitar que fenómenos semelhantes se repitam.
Cianobactérias na barragem do Maranhão
Houve um crescimento de grandes manchas de cianobactérias na Albufeira do Maranhão, concelho de Avis, que se depositaram ao longo das suas margens.
Esta é uma situação que se tem, infelizmente, repetido ao longo dos últimos anos e que poderá trazer riscos à saúde humana, à saúde animal e ao ambiente em geral, uma vez que algumas das espécies de cianobactérias produzem toxinas, com efeitos negativos, por contacto ou ingestão. Algumas cianotoxinas são cancerígenas e podem inclusive ser letais a partir de determinada dose.
A Agência Portuguesa do Ambiente apontou para as escorrências dos olivais intensivos e superintensivos que terão contribuído para o fenómeno. A par do aumento do color e da elevada luminosidade o aumento da instalação desse tipo de culturas poderá agravar ainda mais o fenómeno nessa e noutras albufeiras.
Olivais superintensivos no Alto Alentejo
À semelhança do Baixo Alentejo, o Alto Alentejo, sobretudo, em concelhos como Elvas, Avis, Fronteira, Campo Maior ou Évora, continuou, em 2023, a ser também alvo da instalação de novas monoculturas intensivas e superintensivas de olival, sem um fim à vista, e a situação poderá mesmo agravar-se, caso avance a construção da Barragem do Pisão, no Crato. Quando a maioria das previsões aponta para num futuro breve existirem cada vez mais carências ao nível dos recursos hídricos disponíveis nas zonas a sul do Tejo, será muito questionável a aposta que está a ser feita nestas culturas de regadio, complementadas com utilização regular de fertilizantes químicos de síntese e produtos agrotóxicos. Mais grave se torna a situação quando a expansão destas culturas é feita à custa de floresta autóctone, base da biodiversidade local, ou com o sacrifício de olival adulto e tradicional, bastante mais bem adaptado às realidades locais.
O MELHOR DE 2023
Alto Alentejo bem posicionado na Qualidade Ambiental
A análise do Índice Sintético de Desenvolvimento Regional, referente a 2021 foi divulgada em Junho deste ano, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Esta análise revelou que, ao nível do índice de qualidade ambiental, o Alto Alentejo se situa em sexto lugar nacional, atrás das Terras de Trás-os-Montes (1º lugar) Região Autónoma da Madeira (2º lugar), Beiras e Serra da Estrela (3º lugar), Região Autónoma dos Açores (4º lugar) e Baixo Alentejo (5º lugar). O estudo incidiu sobre 25 regiões Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos (NUTS) III e mostra que, apesar de muito existir ainda a fazer, o Alto Alentejo é uma referência em termos ambientais, a nível nacional.
Avis e Alandroal com bandeira verde
O Município de Avis e do Alandroal foram distinguidos com a bandeira verde atribuída pela Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE). Essa atribuição foi condicionada à avaliação do seu desempenho, através de indicadores de sustentabilidade, sendo um estímulo e uma responsabilidade para o fortalecimento de ações continuadas que visam a elevação da sua qualidade ambiental e educacional. É de salientar que dos Municípios portugueses vencedores da Bandeira Verde Eco XXI, Avis, Alandroal e Beja foram os únicos Municípios do Alentejo galardoados.
Recolha de resíduos orgânicos domésticos
Várias autarquias instalaram sistemas de recolha de resíduos orgânicos, permitindo que sejam valorizados.
PERSPETIVAS PARA 2024
Abandono do projeto da barragem do Pisão
Espera-se que as mudanças políticas permitam abandonar um projeto que poderá trazer uma grande destruição ambiental, com dezenas de milhares de azinheiras e sobreiros abatidos, bem como ecossistemas ripícolas que se podem perder irremediavelmente. A Quercus continuará a lutar em todas as frentes para que este projeto seja travado.
Autarquias sem herbicidas
Esperamos que 2024 traga o primeiro município ou junta de freguesia a declarar-se livre de herbicidas
Abertura da nova Linha Ferroviária Évora-Elvas
Espera-se que haja uma maior utilização do transporte ferroviário, com menor impacto ambiental. É desejável que haja uma modernização e revitalização das linhas férreas na região, com melhor conexão à nova linha, que possam melhor servir as populações.