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Elvas: docente da UÉ condena destruição da Atalaia da Fonte Branca

Imagem: Mar Ceia (Facebook)

As Ruínas da Atalaia da Fonte Branca, ou Fonte Sagrada, em Elvas, foram recentemente destruídas para, naquele espaço, se dar lugar a um investimento privado.

Condenando mais uma destruição de património arqueológico no concelho, André Carneiro, professor do Departamento de História da Universidade de Évora (UÉ), enviou uma carta aberta ao presidente da Câmara Municipal de Elvas, Rondão Almeida, para manifestar o seu desagrado com o sucedido.

Em declarações à Rádio ELVAS, o docente, que não se diz contra os investimentos, explica que devia “ter sido feito um estudo prévio para se avaliar o potencial arqueológico” que existia naquela zona, até porque, segundo alega, tratava-se de um património com “um valor histórico incalculável”. “Essa atalaia estava em ruínas e era visível, mas essa atalaia sobrepõe-se a um sítio romano que, em princípio, seria de grande importância, até pela relação com uma via romana, que passava mesmo em frente”, revela André Carneiro.

O facto do concelho de Elvas não ter Carta Arqueológica, explica o professor, “abre portas à destruição” deste tipo de património. “Já não é a primeira (destruição). Infelizmente, já muitos sítios foram perdidos, no concelho de Elvas, por conta das alterações recentes da paisagem”, recorda.

Esta atalaia, adianta, “estava reconhecida”, pelo que deveria ter sido alvo “da chamada minimização”. “Sabemos que o sítio pode vir a ser destruído, mas devem ser feitas sondagens, escavações ou algum tipo de estúdio prévio e isso não aconteceu”, assegura André Carneiro.

Entretanto, o docente universitário considera que já nem sequer se vai conseguir perceber a extensão do que foi destruído nas Ruínas da Atalaia da Fonte Branca, uma vez que “já houve uma terraplanagem, a paisagem ficou irremediavelmente modificada e já não há possibilidade de recuperar aquilo que se perdeu”.

O professor alega ainda que Elvas, enquanto cidade classificada como Património Mundial da Humanidade, vive uma “situação paradoxal”: “quando saímos da zona classificada e olhamos à volta, percebemos que a paisagem está a mudar e que tudo está a ser feito sem grandes critérios”. “Não se pode proteger quase de forma absurda e exagerada o que está num determinado perímetro, e permitir que tudo o que está à volta seja praticamente esventrado e pilhado, porque é isso que está a acontecer no concelho de Elvas”, acrescenta.

Ainda que diga que não consegue assistir a mais destruições do género “impávido e sereno”, o professor confessa não ter esperança que esta carta aberta possa ter alguma repercussão. “Eu espero é que este alerta sirva para que, em outras ocasiões, exista outro tipo de cuidado e atenção. Não é uma questão de se proibir ou de não querer que se façam as coisas, elas têm é de ser feitas de acordo com certas regras, porque o património é um bem comum, um bem de todos e uma memória histórica que se perde, para sempre, neste caso”, remata.

A Rádio ELVAS aguarda ainda esclarecimentos, por parte da Câmara Municipal, sobre este assunto. Ainda assim, na carta aberta que André Carneiro enviou a Rondão Almeida, lê-se que o “senhor presidente da Câmara Municipal de Elvas afirmou com insustentável leveza que ‘não há mesmo registo de qualquer imóvel ou património de interesse municipal [..]’, logo secundado pelo técnico superior de História, dr. Rui Jesuíno, que ali não viu ‘qualquer valor histórico ou patrimonial’”.

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