“Aqui Somos Rede”, exposição que resulta da vasta coleção de António Cachola, em depósito no Museu de Arte Contemporânea de Elvas (MACE), e que, por ocasião da celebração do 15º aniversário do espaço museológico, foi espalhada por 25 lugares da cidade, foi eleita, pelo jornal Expresso, como a melhor de 2022 do país.
Segundo o semanário, num texto de Celso Martins, com esta “operação”, organizada por Ana Cristina Cachola, António Cachola quis “envolver a cidade em torno de um ativo que, potencialmente, aproveita a todos”. Para o autor do texto, uma “efeméride regional tornou-se momento de convergência das artes plásticas portuguesas”.
Depois da exposição do MACE, o Expresso distingue, em segundo lugar, “Chegar Sem Partir”, de Rui Chafes, em exposição em Serralves, no Porto; em terceiro, “Drawn 1975-1993”, de Leonilson, também em Serralves; em quarto, “O Colecionador de Belas-Artes”, de Sara & André, na Galeria Quadrum, em Lisboa; em quinto, “Europa Oxalá”, na Gulbenkian, em Lisboa; em sexto, “Exist/Resist”, de Didier Faustino, no MAAT, em Lisboa; em sétimo, “Metamorfoses”, de Cindy Sherman, em Serralves; em oitavo, “O Nu e a Madeira”, de Daniel Dewar & Grégory Gicquel, na Culturgest, em Lisboa; em nono, “No Life Lost…”, de Berlinde De Bruyckere, na Galeria Pedro Cera, em Lisboa; e em décimo lugar, “Interferências”, no MAAT. As escolhas foram de Celso Martins, Christiana Martins e Valdemar Cruz.
O texto do Expresso sobre “Aqui Somos Rede”, para ler na íntegra:
“Um colecionador comemora os seus 15 anos de atividade museológica, o que faz? Reúne os objetos que julga mais significativos dos que juntou ao longo dessas décadas e mostra-os orgulhoso num lugar com particular dignidade, o museu que lhe alberga a coleção. Não foi nada disso que se passou em Elvas no verão passado. À semelhança do que havia acontecido na inauguração do museu, António Cachola quis envolver a cidade em torno de um ativo que, potencialmente, aproveita a todos. Só que desta vez essa vontade de agregar ganhou uma outra escala, nacional, transfronteiriça, transformando-se num manifesto contra a macrocefalia do país sediado logo num dos seus contextos culturalmente mais deprimidos, o interior raiano.
Organizada por Ana Cristina Cachola, a operação “Aqui Somos Rede” trouxe a 25 lugares de Elvas quase todos os agentes (artistas, galeristas, curadores, colecionadores, críticos e o poder político) mais dinâmicos do país, não como meros visitantes, mas envolvendo-os no projeto. Desde logo, em vez de exibir ufanamente a sua importante coleção de arte portuguesa, abriu espaço para revelar um colecionismo privado às vezes quase clandestino que ganhou outra visibilidade (e responsabilidade) junto da sociedade civil; depois, essa dinâmica ajudou a tornar mais presente o trabalho de um conjunto alargado de artistas muito jovens, em alguns casos, muito pouco conhecidos, ao mesmo tempo que relembrou outros, relevantes, nem sempre beijados pelos holofotes; finalmente, a abertura de espaços públicos, privados, domésticos, comunitários ou institucionais por toda a cidade, ajudou a revelá-la a si mesma e aos que a ela rumaram. “Aqui Somos Rede” foi uma semente e um exemplo naturalmente efémero que pode, ou não, ser imitado. Foi já, certamente, o acontecimento do ano.”