São 23 os pares de sapatos vermelhos que se encontram espalhados e em exposição, desde ontem, 25 de novembro e até quinta-feira, dia 28, nos corredores do Hospital de Santa Luzia, em Elvas: o mesmo número de mulheres e crianças que, no ano passado, perderam a vida, em Portugal, em contexto de violência doméstica, de acordo com dados da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG).
É desta forma que o Grupo Coordenador das Equipas para a Prevenção da Violência em Adultos da Unidade Local de Saúde do Alto Alentejo procura assinalar o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres, celebrado anualmente a 25 de novembro. O grande objetivo da iniciativa, de acordo com a psicóloga Maria João Martinez, é sensibilizar, “não só a população, mas também os profissionais de saúde para este flagelo a nível mundial”. “Ao longo do percurso do hospital, temos a representação dessas 23 vítimas mortais e escolhemos o vermelho por ser simbólico e porque chama a atenção”, adianta a psicóloga.
Neste contexto, e associada à violência física, surge sempre a psicológica. Muitas destas vítimas, garante Maria João Martinez, “sofrem, ao longo de anos, em silêncio”. “Temos cada vez mais vítimas com idades mais avançadas, que sofreram, durante 20 e 30 anos, a nível dos seus relacionamentos, situações de violência, quer física, quer psicológica”, adianta. Embora não seja visível, a violência psicológica “também deixa bastantes marcas e tem várias repercussões ao nível da qualidade de vida das pessoas”.
A violência doméstica e contra as mulheres é crime público e uma responsabilidade coletiva. Nesse sentido, Maria João Martinez lembra que é altura de serem ultrapassados determinados dogmas culturais, como o famoso ditado “entre marido e mulher não se mete a colher”.
O serviço telefónico de informação gratuito, anónimo e confidencial da GIC, de apoio a vítimas de violência doméstica, funciona 24 horas por dia, 365 dias por ano, através do número 800 202 148, bem como a Linha SMS 3060, também ela gratuita e confidencial.
Esta exposição, associada à campanha #PortugalContraAViolência, para além dos sapatos, inclui vários cartazes, que chamam a atenção para o problema da violência doméstica e contra as mulheres.