MACE inscreveu-se na geografia cultural do país, diz Ana Cristina Cachola

Tal como noticiámos anteriormente (ver aqui), o projeto “Aqui Somos Rede”, exposição que resulta da vasta coleção de António Cachola, em depósito no Museu de Arte Contemporânea de Elvas (MACE), e que, por ocasião da celebração do 15º aniversário do espaço museológico, foi espalhada por 25 lugares da cidade, foi eleita, pelo jornal Expresso, como a melhor de 2022 do país.

A diretora artística do evento, Ana Cristina Cachola, mostra-se muito orgulhosa com esta distinção referindo que foi feito um apelo “pelos críticos para que se copiasse este modelo e fosse replicado noutros locais. Também no Público, fomos identificados como um dos grandes eventos do ano, na área das artes visuais. Já a exposição “Quem nos Salva”, patente até dia 15 deste mês no Museu de Arte Contemporânea de Elvas, ficou em segundo lugar nas escolhas de Luísa Soares de Oliveira como melhor exposição do ano”.

Para Ana Cristina Cachola, este evento permitiu que “o MACE passa-se a fazer parte da geografia cultural do país. É a primeira vez que o museu é incluído nas listas de final de ano e acaba por trazer a inovação no gesto de criar relações e afetos”.

Neste momento, está a ser produzido o livro do projeto “Aqui somos rede” que engloba todos os trabalhos e exposições que estiveram patentes.

O texto do Expresso sobre “Aqui Somos Rede”, para ler na íntegra:

“Um colecionador comemora os seus 15 anos de atividade museológica, o que faz? Reúne os objetos que julga mais significativos dos que juntou ao longo dessas décadas e mostra-os orgulhoso num lugar com particular dignidade, o museu que lhe alberga a coleção. Não foi nada disso que se passou em Elvas no verão passado. À semelhança do que havia acontecido na inauguração do museu, António Cachola quis envolver a cidade em torno de um ativo que, potencialmente, aproveita a todos. Só que desta vez essa vontade de agregar ganhou uma outra escala, nacional, transfronteiriça, transformando-se num manifesto contra a macrocefalia do país sediado logo num dos seus contextos culturalmente mais deprimidos, o interior raiano.

Organizada por Ana Cristina Cachola, a operação “Aqui Somos Rede” trouxe a 25 lugares de Elvas quase todos os agentes (artistas, galeristas, curadores, colecionadores, críticos e o poder político) mais dinâmicos do país, não como meros visitantes, mas envolvendo-os no projeto. Desde logo, em vez de exibir ufanamente a sua importante coleção de arte portuguesa, abriu espaço para revelar um colecionismo privado às vezes quase clandestino que ganhou outra visibilidade (e responsabilidade) junto da sociedade civil; depois, essa dinâmica ajudou a tornar mais presente o trabalho de um conjunto alargado de artistas muito jovens, em alguns casos, muito pouco conhecidos, ao mesmo tempo que relembrou outros, relevantes, nem sempre beijados pelos holofotes; finalmente, a abertura de espaços públicos, privados, domésticos, comunitários ou institucionais por toda a cidade, ajudou a revelá-la a si mesma e aos que a ela rumaram. “Aqui Somos Rede” foi uma semente e um exemplo naturalmente efémero que pode, ou não, ser imitado. Foi já, certamente, o acontecimento do ano.”