Com 2024 a chegar ao fim, o Núcleo Regional de Portalegre da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza faz um balanço daquilo que considera ter sido o melhor e o pior, do ano, em termos ambientais. .
Lembrando que o ano “ficou marcado pela continuação das guerras na Ucrânia e na Palestina”, a Quercus assegura que, a nível ambiental, “houve também problemas que se agravaram”. A Direção Nacional da Quercus emitiu um comunicado oficial sobre o ano que agora termina.
No Alto Alentejo, nomeadamente no distrito de Portalegre, a Quercus destaca os seguintes factos:
O PIOR DE 2024
Mau cheiro em Casa Branca e barragens poluídas
Cidadãos de Casa Branca, concelho de Sousel, alertaram para o cheiro nauseabundo que se faz sentir periodicamente na zona. A Quercus verificou que a água em duas barragens no local se encontrava em muito mau estado. A situação está a ser acompanhada pelas autoridades.
Olivais superintensivos no Alto Alentejo
À semelhança do Baixo Alentejo, o Alto Alentejo, sobretudo, em concelhos como Elvas, Avis, Fronteira, Campo Maior ou Évora, continuou, em 2024, a ser também alvo da instalação de novas monoculturas intensivas e superintensivas de olival, sem um fim à vista, e a situação poderá mesmo agravar-se, caso avance a construção da Barragem do Pisão, no Crato. Quando a maioria das previsões aponta para num futuro breve existirem cada vez mais carências ao nível dos recursos hídricos disponíveis nas zonas a sul do Tejo, será muito questionável a aposta que está a ser feita nestas culturas de regadio, complementadas com utilização regular de fertilizantes químicos de síntese e produtos agrotóxicos. Mais grave se torna a situação quando a expansão destas culturas é feita à custa de floresta autóctone, base da biodiversidade local, ou com o sacrifício de olival adulto e tradicional, bastante mais bem adaptado às realidades locais.
Barragem do Pisão com obras adjudicadas
A barragem a ser construída levará à perda de mais de 50 mil azinheiras e sobreiros em 481 hectares de azinhal, sobreiral e de montado, a galeria ripícola junto da ribeira de Seda, com todos os ecossistemas a serem destruídos, sem que o estudo tenha avaliado alternativas de localização ao projeto da barragem. Este processo está feito ao contrário, pois primeiro adjudicaram a construção da barragem e depois é que vão tratar da aldeia. As pessoas e a aldeia são deixadas para o fim.
Grandes Centrais Solares avançam no Alto Alentejo
A Quercus defende, no âmbito dos instrumentos de gestão do território, a necessidade de regulamentação da localização de megacentrais fotovoltaicas, para evitar o corte indiscriminado de floresta e a degradação dos solos.
A energia solar deve ser instalada em zonas já artificializadas, como os telhados dos edifícios.
Incumprimento da Diretiva Quadro da Água por Portugal e Espanha
A Comissão Europeia confirmou o incumprimento da Diretiva Quadro da Água por Portugal e Espanha enquanto não forem estabelecidos “objetivos de caudal ecológico para cada massa de água” do rio Tejo. Deve ser assegurado um regime de caudal ecológico nas massas de água, inclusive, nas massas de água fronteiriças e transfronteiriças, destinado à conservação dos ecossistemas e, ainda, para os usos económicos e das populações ribeirinhas.
Doença da língua azul mata ovelhas
Assistimos a um surto sem precedente da doença da língua azul que afetou milhares de ovelhas. É mais um caso de uma doença que passou de animais selvagens para animais domésticos devido à ação humana, pois o homem, no século XVIII, colocou em contacto ovelhas com esse vírus, quando as introduziu na África do Sul. O aumento da temperatura está a beneficiar o desenvolvimento dos insetos vetores da doença da língua azul. No passado os surtos desta doença ocorriam de 20 em 20 anos, prevê-se que em meados deste século haja surtos a cada 5 ou 7 anos. O aquecimento global favorece assim o desenvolvimento dos insetos vetores da doença.
O MELHOR DE 2024
Anúncio de encerramento da Central Nuclear de Almaraz
Acolhemos com satisfação a notícia de que a empresa pública ENRESA, responsável pela gestão de resíduos radioativos, iniciou o processo de concurso para serviços de engenharia destinados ao desmantelamento da central nuclear de Almaraz, na província de Cáceres, junto ao Tejo, a cerca de 100 km da fronteira com Portugal. A data de cessação da exploração das Unidades I e II de Almaraz está fixada para novembro de 2027 e outubro de 2028, respetivamente.
Central de Biogás em Monforte
Foi anunciada a construção de uma central que visa produzir biogás a partir de subprodutos da extração de azeite, como as águas ruças e o bagaço de azeitona. Espera-se que terminem os maus-cheiros sentidos na região.
Avis e Alandroal com bandeira verde
O Município de Avis e do Alandroal foram distinguidos de novo este ano com a bandeira verde atribuída pela Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE). Essa atribuição foi condicionada à avaliação do seu desempenho, através de indicadores de sustentabilidade, sendo um estímulo e uma responsabilidade para o fortalecimento de ações continuadas que visam a elevação da sua qualidade ambiental e educacional. É de salientar que dos Municípios portugueses vencedores da Bandeira Verde Eco XXI, Avis, Alandroal e Beja foram os únicos Municípios do Alentejo galardoados.
PERSPETIVAS PARA 2025
Autarquias sem herbicidas
Esperemos que 2024 marque o início da declaração de autarquias sem herbicidas, adotando-se alternativas não poluentes para o controlo da vegetação nas vias.
Abertura da nova Linha Ferroviária Évora-Elvas
Com a abertura desta nova Linha Ferroviária prevista para 2025, espera-se uma maior utilização do transporte ferroviário, com um menor impacte ambiental associado. Será desejável que no âmbito da abertura desta nova Linha Ferroviária, se avance com a possibilidade de transporte de passageiros na mesma e com uma modernização e uma revitalização das linhas férreas na região, assim como com uma melhor conexão à nova linha, que possam melhor servir as populações locais.
Faixas de gestão de combustíveis no Parque Natural da Serra de São Mamede
A Rede Primária de Faixas de Gestão de Combustível no Parque Natural da Serra de São Mamede, prevista para prevenir os incêndios florestais, deverá ser implementada sem colocar em risco os objetivos de proteção da biodiversidade.
Implementação do Plano de Ação da Comissão de Cogestão do Parque Natural da Serra de São Mamede
O financiamento do Fundo Ambiental poderá contribuir para a sensibilização, comunicação e divulgação do Parque, cumprindo a missão da Comissão de Cogestão.