
A Galeria Howard’s Folly, em Estremoz, e o Legado de Espiga Pinto apresentam a exposição “Memórias do Alentejo”, em homenagem ao 85º aniversário de José Manuel Espiga Pinto (1940-2014). A mostra de pintura, desenho e escultura, patente ao público na Galeria Howard’s Folly, de 16 de março a 27 de abril, tem o apoio institucional da BIALE, Bienal Internacional do Alentejo 2025.
“O campesinato, a vida na aldeia ou nas vilas dessa região marcam uma das imagens mais fortes da sua estética, numa espécie de neorrealismo tardio, já nos anos 1960 e 1970, mas onde era possível vislumbrar uma capacidade de autoironia e mesmo humor sobre essa iconografia.” David Santos, então diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado (MNAC). in “Morreu Espiga Pinto, pintor do mundo alentejano” – Jornal PÚBLICO, 1 de Outubro de 2014.
Nascido em Vila Viçosa durante a Segunda Guerra Mundial, em 1940, Espiga estudou escultura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, obtendo importantes prémios e distinções ao longo da vida pela sua contribuição multidisciplinar para as artes. Foi ainda membro da Academia Nacional de Belas Artes. As memórias e a ligação à vida rural no Alentejo influenciariam toda a sua obra. Espiga afirmou que foi na sua chegada a Estremoz, tinha então cerca de 20 anos, que assumiu como “sentido cósmico” para a sua vida “cantar o Alentejo”, explorando as principais formas figurativas e temas recorrentes, que mais tarde se tornariam a base para o simbolismo cósmico, patentes ao longo de uma extensa carreira de mais de 60 anos.
As peças expostas foram criadas na década de 60, aquando do regresso de Espiga ao Alentejo. São exemplos de excelência do seu período neorrealista, que refletem a infância em Vila Viçosa. Espiga relembraria “na minha ‘Pátria-Mãe’ iniciei a minha visão do mundo. No Alentejo de 1940 a vivência dos costumes, imaginário e lendas, deliciaram a minha infância.” O trabalho de curadoria põe em evidência as impressões iniciais de Espiga, descrevendo uma “jornada pelo nosso modo de ser português”. Serão expostas peças em diversos suportes, incluindo pintura, trabalhos sobre papel, desenho em tinta-da-china sobre cortiça e escultura em bronze. A imagem representa a vida típica do Alentejo histórico, com composições que incluem o cavalo, o touro, a roda, a carroça, a apanha da azeitona, os agricultores, a camponesa e as festas locais.
“Roda”, de 1965, é a pintura em destaque pelo seu elemento icónico, com tons laranja evocando a luz do amanhecer sobre a carroça no labor matinal nos campos e representando o símbolo de continuidade da vida. As peças escolhidas, nos vários suportes, continuam a complementar e a ecoar a roda ao longo da exposição. A roda tornar-se-ia um dos principais elementos recorrentes da iconografia de Espiga, presente em todas as suas fases subsequentes. A exposição centra-se nestes primeiros trabalhos da década de 1960, referidas pelos conhecedores da sua obra como a “Série do Alentejo”, proporcionando uma narrativa de caráter histórico inspirada no profundo afeto do artista pela sua cultura.
A arte de Espiga está amplamente estabelecida dentro e fora de Portugal, em mais de 80 exposições individuais, com uma multiplicidade de obras em locais públicos e trabalhos presentes em prestigiadas coleções. Obras de Espiga foram recentemente incluídas em importantes exposições coletivas: Jaime Isidoro e Vila Nova de Gaia: 50 anos após os 1ºs Encontros Internacionais de Arte (2024), NEO-REALISMO – Memórias Guardadas do Acervo de Hernâni Matos (2024), Uma Terna (e Política) Contemplação do que Vive, obras da coleção Norlinda e José Lima (2023), 60º Aniversário da Cooperativa Árvore (2023) e Contra a Abstração, Obras da Coleção da Caixa Geral de Depósitos (2019). Em 2020, Penelope Curtis, então Diretora na Fundação Calouste Gulbenkian, selecionou mais de 50 importantes obras, ampliando o já significativo conjunto de obras de Espiga na coleção do CAM – Centro De Arte Moderna Gulbenkian, incluindo peças associadas à temática da presente exposição.
O legado de Espiga Pinto preserva a obra e o acervo biográfico deste extraordinário artista, estando em curso uma extensa investigação com vista à elaboração de um catálogo raisonné. Esta exposição tem a curadoria de Amie Conway e Alex Cousens, profissionais independentes com um longo trajeto nas artes, baseados em Londres, Reino Unido, trabalhando diretamente com os dois herdeiros, Aurora e Leonardo Espiga Pinto, filha e filho, respetivamente. As obras são provenientes da coleção que o próprio artista cuidadosamente construiu, com agradecimentos pelo empréstimo de outras obras por parte de importantes coleções particulares.
Juntamente com o apoio institucional da BIALE 2025, a exposição conta com o apoio da The Sovereign Art Foundation, Grupo de Hotéis Marmóris, Galeria Alvarez, Galeria Aqui d’El Arte – CECHAP, T.ARTe Collage.pt.
“A galeria do The Folly recebe normalmente artistas contemporâneos locais, mas estamos muito satisfeitos por, desta vez, recebermos um verdadeiro ícone da cena artística local que, infelizmente, jánão estáentre nós. Ter um artista desta estatura a expor na nossa galeria durante a BIALE do Alentejo é, na nossa opinião, muito propício.” Howard Bilton, proprietário da Howard’s Folly e presidente da The Sovereign Art Foundation.
“O regresso de Espiga Pinto ao seu Alentejo, e a Estremoz, tem um enorme significado. Esta é a primeira exposição de desenho, pintura e escultura de Espiga Pinto desde o seu falecimento. Além disso, a sua célebre “Série do Alentejo” (década de 1960) não era mostrada ao público há 15 anos. E, finalmente, a exposição tem lugar em Estremoz, lugar onde o nosso pai viveu e criou estas mesmas peças, na sua casa-atelier.” Aurora e Leonardo Espiga Pinto (filha e filho), Legado de ESPIGA Pinto, 2025