Falta de efetivos obriga GNR a “milagre da multiplicação” no distrito

Identificado como um problema em todo o território nacional, a falta de militares da GNR nos postos territoriais, segundo a Delegação Sul da Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR), assume maior gravidade nas zonas interiores, como é o caso do distrito de Portalegre.

Perante “uma falta de efetivo gritante”, a associação, de acordo com o coordenador da região sul, António Barreira, não tem competências para resolver, por si só, a situação, tendo reunido com o presidente da Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA), Hugo Hilário, já no ano passado, em outubro, para que este pudesse fazer chegar essa preocupação à Tutela e ao Governo.

Até ao momento, adianta António Barreira, a APG/GNR ainda não recebeu qualquer resposta sobre as diligências efetuadas, relativamente ao assunto, por parte da CIMAA, confessando que acredita que possa já ter sido discutida a segurança no distrito. “De certeza absoluta que o senhor presidente da CIMAA deve ter dado conhecimento a todos os presidentes de câmara do Alto Alentejo, mas isto é o que nós pensamos, porque, de facto, ainda não recebemos qualquer feedback e por isso é que, no dia 17 de setembro, a APG/GNR remeteu novo ofício para questionar o mesmo para saber se de facto houve algumas diligências junto do Ministérios da Administração Interna, bem como dos municípios que a CIMAA representa”, adianta.

Tendo em conta as dificuldades enfrentadas pelos militares do Posto Territorial de Nisa, a APG/GNR procurou reunir com a presidente da câmara, pedido que lhe foi negado e justificado com a situação epidemiológica. “Estranhou esta associação que não houvesse, da parte da senhora presidente da câmara, a possibilidade de um agendamento de uma reunião por videoconferência, uma vez que estamos em 2021, as novas tecnologias existem, e não se compreende que não tenha havido essa vontade por parte da Câmara Municipal de Nisa para reunir”, comenta António Barreira.

Já o presidente do Gavião, explica o dirigente, aceitou reunir presencialmente com os membros da associação, para dar conhecimento “de toda a situação da envolvência do concelho e todas as dificuldades que os elementos da Guarda sentiam no sentido do policiamento às suas populações”.

Os comandos territoriais, como o de Portalegre, garante ainda o coordenador da região sul da APG/GNR, são obrigados a fazer “milagres”: “os milagres fazem-se multiplicando os homens, tipo o milagre de Senhor Jesus Cristo quando pregou aos peixes e transformou o pão”. Atualmente, relata, há patrulhas de dois militares, em diversos turnos, a assegurar a segurança pública de dois e três concelhos, situação que, do seu ponto de vista, “envergonha qualquer autarca, qualquer primeiro-ministro e qualquer ministro da Administração Interna”.

Quando um posto da GNR, no distrito, não tem patrulha, durante um determinado horário, é o posto vizinho que garante a segurança dos dois concelhos. “Pergunto eu se é isto que o poder autárquico quer para os seus concelhos, concelhos esses em que a aposta é o turismo, e não há turismo que consiga ter um bom encaminhamento se não houver segurança”, questiona-se António Barreira.

O dirigente lembra ainda que, mesmo a representar o Estado, um militar da GNR, assim como um agente da PSP, quando é agredido, no decorrer das suas funções, se necessitar de assistência hospitalar, é obrigado, como qualquer utente, a pagar as taxas moderadoras. “Isto é uma situação que ocorre e que ninguém quer falar, porque é tabu”, assegura, revelando ainda que um militar da GNR, que trabalha sábados, domingos e feriados, com turnos rotativos, recebe um subsídio de patrulha de 59 euros.

Têm sido ainda pedidas explicações à presidente da Câmara de Portalegre, revela o dirigente, para o facto da construção do novo centro de formação da GNR continuar sem sair do papel. “Para além de mexer com a economia local, do distrito de Portalegre, acaba por ser a maternidade da entrada de novos elementos para, a nível nacional, fazerem serviço e prestarem um serviço de segurança pública ao país”, diz ainda.

A APG/GNR “lamenta que a Tutela não considere como urgente a gravíssima situação que atravessa esta zona do país, em que estão em maior número os postos que não possuem patrulhas às ocorrências em alguns turnos, sendo humanamente impossível prestar um serviço de policiamento preventivo e de proximidade”.