Retrato dos efeitos da pandemia em Portugal

Pela primeira vez, eis um retrato dos efeitos da pandemia em Portugal. Apesar da falta de transparência do Governo na revelação de dados pormenorizados sobre a Covid-19.

Saiba assim como se portaram 233 concelhos (onde se divulga informação epidemiológica) em três indicadores fundamentais: taxa de mortalidade, taxa de letalidade e peso da covid-19 no total dos óbitos. E depois, questione-se sobre os motivos de haver tantos concelhos importantes sobre os quais nada se sabe; e sobre os motivos do manto negro que esconde a tenebrosa situação dos lares de idosos.

Aguiar da Beira, Viana do Alentejo, Castelo de Vide, Marvão e Mourão são os cinco concelhos de Portugal mais afetados pela pandemia. No lado oposto, pelo menos 16 municípios portugueses ainda não registaram vítimas por covid-19, sendo quase todos dos arquipélagos da Madeira (três) e Açores (12). No Continente, apenas Gavião, no distrito de Portalegre, não contabilizou ainda qualquer óbito atribuído ao SARS-CoV-2

Esta é uma das conclusões de uma inédita análise, dados dos óbitos e casos positivos de covid-19, englobando um universo de 233 dos 308 concelhos portugueses, e que foram também cruzados com a mortalidade total desde a segunda quinzena de Março de 2020 – proveniente do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO) – e ainda com a estimativa da população por concelho, feita regularmente pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Face à recusa da Direcção-Geral da Saúde (DGS) em divulgar a situação epidemiológica completa por município – e especificamente os óbitos por Covid-19 – recorreu-se à informação constante de sites e redes sociais das autarquias e a informações de algumas autoridades de saúde regionais (apenas uma em Portugal Continental, e as restantes nos arquipélagos), bem como a alguns órgãos de comunicação social de âmbito regional e local. Nunca, até agora, esta informação foi compilada e analisada em conjunto para que, desse modo, se pudesse calcular, para cada concelho, a taxa de letalidade (óbitos atribuídos à Covid-19 por 100 casos positivos), a taxa de mortalidade (óbitos atribuídos à Covid-19 por 1.000 habitantes) e peso da mortalidade por covid-19 desde o início da pandemia (óbitos por Covid-19 em 100 óbitos registados desde a segunda quinzena de Março de 2020 até meados de Fevereiro de 2021). Os dados dos óbitos e dos casos positivos por município foram recolhidos, quase na sua totalidade, na segunda quinzena deste mês, sobretudo entre os dias 18 e 20. Infelizmente, esta análise não inclui grande parte dos concelhos de maior dimensão, cujas autarquias não se interessam em informar os seus munícipes

Os cinco concelhos, acima apontados, foram considerados nesta análise os casos mais dramáticos em termos de taxa de mortalidade, ou seja, através do cálculo do impacte da covid-19 como causa de vítimas fatais na população do respetivo concelho. Nessa linha, a nova doença causou, desde Março de 2020, e por cada 1.000 habitantes de cada concelho, cerca de 12 óbitos em Aguiar da Beira, quase nove (8,9) em Viana do Alentejo, e 7,5 em Castelo de Vide. Além de Marvão e Mourão, também os municípios de Vila Velha de Ródão e Mértola registaram entre 5 e 6 óbitos por mil habitantes (‰, permilagem). Embora não seja possível usar um termo de comparação, por a covid-19 ser uma doença nova – e não existir sequer uma forma válida de a confrontar com infeções respiratórias (e.g., pneumonias) –, nota-se que o impacte foi bastante distinto ao longo do país.