Festival Ibérico de Cinema em Badajoz abre com filme “Raiva”

O premiado filme português ‘Raiva’, do diretor Sérgio Tréfaut, abre o 25º Festival Ibérico de Cinema (FIC) esta segunda-feira, às 22.30 horas, no terraço do Teatro López de Ayala de Badajoz.

Esta longa-metragem de ficção é uma adaptação da novela ‘Seara de Vento’, do escritor Manuel Fonseca, e conta uma tragédia que aconteceu nos campos do sul do Alentejo em 1950.

‘Raiva’ narra a história da família Palma, camponeses que vivem as penúrias de um país dominado pela oligarquia dos proprietários de terras. Nesse ambiente tenso, desencadeiam-se numa noite vários assassínios a sangue frio.

A história começa quando António deixa a sua precária vivenda no meio do campo e, com uma espingarda, dirige-se à casa do senhor da vila. Após acabar com a vida deste e a do filho, foge, mas rapidamente as autoridades vão buscá-lo a casa. O filme mostrará o que levou o protagonista a tão brutal desfecho.

‘Raiva’ foi o grande triunfador dos Prémios Sophia 2019, da Academia Portuguesa de Cinema. O filme ganhou seis Prémios Sophia: Melhor Filme; Melhor Atriz (Isabel Ruth); Melhor Ator (Hugo Bentes); Melhor Ator Secundário (Adriano Luz); Melhor Argumento Adaptado (Sergio Tréfaut e Fátima Ribeiro); e Melhor Fotografia (Acácio de Almeida).

A estes prémios acrescentam-se outros conquistados em festivais e certames de cinema internacionais. O filme conta ainda com a colaboração especial do ator espanhol Segi López.

A injustiça é retratada em ‘Raiva’ como um ciclo que se repete, e continuará sempre a repetir-se através de novas formas, embora toda a vida se lute contra ela, segundo explica o diretor do filme, que escolheu adaptar este livro emblemático no Alentejo a um neorrealismo português clássico. O filme, da mesma forma que o livro, fala do abismo entre pobres e ricos, mas no filme os mortos apenas são mortos, não são heróis, nem símbolos.

Sérgio Tréfaut fez um filme silencioso, a preto e branco, “onde as caras e os corpos dizem mais que os discursos”. Criou ainda um espaço atemporal, quase mitológico. “O Alentejo aqui também pode ser o sul da Itália, Grécia, Síria, Arménia, Espanha, América Latina”.

‘Raiva’ é a segunda longa-metragem de ficção assinada pelo realizador português Sérgio Tréfaut após a ‘Viagem a Portugal’. Tréfaut conta com uma ampla experiencia como diretor de documentários, com títulos como ‘Treblinka’.

O ator Hugo Bentes, protagonista de ‘Raiva’ assistirá em Badajoz à apresentação do filme no Festival Ibérico de Cinema. Hugo reside em Beja, e foi escolhido por Sérgio Tréfaut para protagonizar este filme embora não fosse ator. Hugo Bentes é técnico de som da Câmara de Serpa e cantor num grupo de canto alentejano. No seu primeiro papel ganhou o Prémio Sophia de melhor ator.